quarta-feira, 9 de junho de 2021

O LEAFRO recomenda!

Estão abertas as inscrições do processo seletivo 2021.1 para alunos de matrícula especial, do Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em História Regional de Local, ofertado no Departamento de Ciências Humanas (DCH), Campus V da UNEB em Santo Antônio de Jesus.

sábado, 31 de agosto de 2019

Partilha da África: 130 anos da Conferência de Berlim

Essa gravura de Hermenn Lüders  demonstra uma sessão da
Conferência de Berlim,o artista representou um africano
 entre folhagens.

Há pouco mais de 130 anos o continente africano passava por uma divisão, a qual, ficou  conhecida como Conferência de Berlim.
O fato ocorreu na Alemanha. no século XIX, com o objetivo de dividir a África em fronteiras, que existem até os dias atuais, sendo algumas das justificativas era colonizar o continente segundo os moldes europeus e beneficiar a expansão imperialista existente naquela época, mesmo havendo resistência por parte dos africanos. 
Porém, é sabido, que a essa divisão aconteceu sem nenhuma consideração à história do povo africano e isso resultou em danos que são vividos ainda pela sociedade atual.
Em 2010 no 125º aniversário da Conferência de Berlim foi discutido a importância da indenização à alguns países africanos, pelos danos deixados pelo colonialismo, o que consideraram crime à humanidade, no entanto, fala-se muito pouco sobre os crimes cometidos pelos europeus na África, e a esperança que haja alguma reparação é quase inexistente. 
https://www.dw.com/pt-002/conferência-de-berlim-partilha-de-áfrica-decidiu-se-há-130-anos/a-18283420?maca=pt-002-Facebook-sharing

domingo, 18 de agosto de 2019

Lançamento do livro " O Urucungo de Cassange" do Prof. Josivaldo Pires de Oliveira

Na foto: Gustavo Felicíssimo (editor)  e mestre Lua Rasta , (leitor)
no  Lançamento do livro na Festa Literária do Pelourinho (FLIPELÔ)

O “O Urucungo de Cassange – Um Ensaio sobre o Arco Musical no Espaço Atlântico (Angola – Brasil)”,  é o mais novo livro escrito pelo Prof. Dr. Josivaldo Pires de Oliveira, docente de História da África da UNEB/Campus XIII (Itaberaba), trata-se da história do berimbau ou uruncungo, o qual, é reconhecido como o mais importante instrumento musical da capoeira no Brasil, nesse mesmo livro, ele faz uma linha para um melhor entendimento no que se refere a reformulação de uma cultura que perpassa os âmbitos não só cultural, mas também histórico por meio do Brasil e de Angola.  O livro teve o seu primeiro evento de lançamento em Belém do Pará, no último dia 09 de agosto, pela editora Mondrongo, e conta com a ilustração do artista plástico Gabriel Ferreira, o sucesso nas vendas já é notório, desde o dia do lançamento, mais de 100 livros já foram vendidos!  

A agenda de lançamento continua, dia 29 de agosto em Feira de Santana-BA na Roda de Conversa Afro-Papo, dia 05 de setembro Lançamento Oficial da editora e assessoria cultural do autor, no dia 19 de setembro no seminário Africania na escola de música da UFRJ!
Os interessadxs em adquirir o livro “Urucungo de Cassange”, basta acessar o site da editora Mondrongo e garantir o seu! 
https://www.mondrongo.com.br/index2.php?pg=noticia&id=213  

terça-feira, 6 de agosto de 2019

O Urucungo de Cassange, novo livro do professor Josivaldo Pires de Oliveira


Autor de alguns interessantes títulos sobre história social das populações negras, o professor Dr. Josivaldo Pires de Oliveira, docente de História da África da UNEB/Campus XIII (Itaberaba), lança O Urucungo de Cassange: um ensaio sobre o arco musical no espaço Atlântico (Angola e Brasil). Com selo da Editora Mondrongo, o livro aborda a experiência atlântica do arco musical, que no Brasil ficou conhecido como berimbau ou urucungo. Os lançamentos terão início no próximo dia 09 de agosto, durante a Programação do Encontro do Malungo Centro de Capoeira Angola, em Belém do Pará e seguirá com agenda até novembro deste ano. Em breve, novas datas e locais de lançamentos.

Interessodxs poderão adquirir o livro através do site da Editora Mondrongo: https://www.mondrongo.com.br/index2.php?pg=noticia&id=213  

sábado, 3 de agosto de 2019

Apoio à professora Vanicléia Santos

CARTA ABERTA EM APOIO À PROFESSORA VANICLÉIA SILVA SANTOS

Nos causaram espanto e indignação os ataques dirigidos a Vanicléia Silva Santos, professora de História da África da Universidade Federal de Minas Gerais, organizadora do Simpósio Internacional Novas Epistemes para o Estudo da África Pré-Colonial. Embora considerando legítima a reivindicação  de maior representatividade negra em qualquer evento e, especificamente, a crítica à presença desproporcional de pesquisadores/as branco/as em detrimento de pesquisadores/as negros/as, neste evento, entendemos que a natureza dos ataques dirigidos à organizadora e aos palestrantes, além de injustos, personaliza um debate que deve ser pautado pela compreensão do racismo estrutural presente nas universidades brasileiras e da própria formação do campo de História da África no Brasil, constituído – ainda e infelizmente –  por uma maioria de pesquisadores brancos. Para a África pré-colonial, tema do seminário em questão, a discrepância é ainda mais gritante.  

Em suma, o que se apresentou na composição das mesas do evento promovido pela UFMG é um recorte do campo de História da África no Brasil. Em comparação aos estudos sobre escravidão e pós-abolição, é ainda muito reduzido no Brasil o número de pesquisadores/as negros/as especialistas em África ou de africanistas em formação.

 Diante do exposto, consideramos a crítica à historiadora Vanicléia Santos desmedida, sobretudo diante de sua atuação nos últimos anos na consolidação desse campo de estudos no Brasil. Destacamos sua atuação como professora e orientadora, seu desempenho, durante muitos anos, à frente Centro de Estudos Africanos da UFMG, e seu engajamento em relevantes projetos internacionais, como a organização do volume X da Coleção História Geral da África da UNESCO. Embora nos juntemos ao coro que reivindica maior representatividade negra entre os pesquisadores africanistas, entendemos que o tom assumido pelas críticas em geral tenderam à personalização do debate, o que, não ajuda a compreensão e o combate ao caráter estrutural do racismo presente nas universidades brasileiras, reflexo do que é a sociedade brasileira. 

Sobre o evento propriamente dito, ele foi amplamente divulgado nas redes sociais (no Grupo de Estudos de África Pré-Colonial e no Centro de Estudos Africanos da UFMG), bem como nas listas de e-mails dos grupos de História da África. Após se esgotar a data final para o envio de comunicações, no dia 10 de julho, o prazo para inscrições foi ainda ampliado até o dia 15 de julho. A organização do evento deu oportunidade a que se inscrevessem pesquisadores dos mais diferentes recortes sociais, raciais e de gênero. Alguns de nós já organizamos eventos da mesma natureza e magnitude, e nos deparamos (por vezes nos frustramos) com dificuldades para compor fóruns acadêmicos representativos em termos de raça, gênero e origem regional. 
   
A virulência de alguns ataques desferidos contra Vanicléia Santos, pesquisadora negra que,  como muitos de nós, vem construindo uma carreira acadêmica sólida, combatendo diariamente o racismo estrutural e cotidiano e o machismo, comprometida com a formação da nova geração de historiadores negros, especialistas em História da África é, no mínimo, um gesto de automutilação. Por todas essas razões, nós abaixo assinados manifestamos nosso firme apoio à professora Vanicléia Silva Santos, compreendendo que o problema em questão precisa ser discutido no interior da universidade pública, mas sem personalizá-lo.

Subscrevem.

  1. Carlos da Silva Jr. (Professor, Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS)
  2. Lucilene Reginaldo (Professora de História da África, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP)
  3. Wlamyra Albuquerque (Professora, Universidade Federal da Bahia - UFBA)
  4. Roquinaldo Ferreira (Professor, Universidade da Pensilvânia, EUA)
  5. Iacy Maia (Professora, Universidade Federal da Bahia - UFBA )
  6. Juliana Barreto Farias (Professora, Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB)
  7. Josivaldo Pires de Oliveira (Professor, Universidade do Estado da Bahia - UNEB)
  8. Nielson Bezerra (Professor, Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ)
  9. Tukufu Zuberi (Professor, Universidade da Pensilvânia, EUA)
  10. Luana Tolentino (Professora, Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP)
  11. Nilma Lino Gomes (Professora Titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Integrante do Programa de Ações Afrimativas na UFMG)
  12. Patrícia Santana (Professora, Prefeitura de Belo Horizonte)
  13. Etiene Martins (Professora e editora Livraria Bantu)
  14. Rogéria Cristina da Silva (Professora, Universidade do Estado de Minas Gerais)
  15. Iara Pires Viana (Assessoria da Subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica; Militante da Educação das Relações Raciais e Pesquisadora do Feminismo Negro)
  16. Erisvaldo Pereira dos Santos (Professor e babalorixá, Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP)
  17. Cidinha da Silva (Escritora)
  18. Macaé Evaristo (Ex-secretária de Educação do Estado de Minas Gerais)
  19. Mara Catarina Evaristo (Professora da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte) 
  20. Vaniléia Santos Brito (Ministério Publico de Minas Gerais)
  21. Renata Felinto (Universidade Regional do Vale do Cariri, Pernambuco)
  22. Vanessa Raquel Lambert (professora, Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF)
  23. Renata Bittencourt (Diretora Executiva do Instituto Inhotim)
  24. Kassandra Muniz (Professora, Universidade Federal de Ouro Preto - UFOP)
  25. Juvenal de Carvalho (Professor, Universidade Federal do Recôncavo Baiano - UFRB)
  26. Jackson André Ferreira (Professor, Universidade do Estado da Bahia - UNEB)
  27. Flávio dos Santos Gomes (Professor, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)
  28. Mônica Lima (Professora, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ)
  29. Rosane Pires Viana (Gestora e Pesquisadora de Literatura Africana e Afrobrasileira, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG)
  30. Ana Lúcia Silva Souza (Professora, Universidade Federal da Bahia - UFBA)
  31. Itacir Cruz (Professor Adjunto de História/Instituto de Humanidades – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira - UNILAB, CE – Líder do Grupo BALAFON – História, cultura e ancestralidade africana)




quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ATENÇÃO: no dia 10 de outubro, LEAFRO realizará na UNEB CAMPUS XIII, atividades voltadas para o ensino e história da África é diáspora.



O Laboratório de Estudos Africanos e Espaço Atlântico (LEAFRO) consistem em um espaço que reúne professores e estudantes do Departamento de Educação/Campus XIII da UNEB, assim como outros colaboradores, interessados nos estudos sobre populações negras.
O LEAFRO acolhe atividades das mais variadas possíveis que tenham caráter formativo e de atualização profissional, constituindo um projeto guarda-chuva de ações extensionistas sobre os diferentes aspectos das populações negras no Brasil, na África e na Diáspora.
Busca atender a orientação fundada no ensino, pesquisa e extensão acadêmica , objetivar uma estrutúra que busque contemplar as principais questões demandadas  pelas comunidades locais no tocante ao conhecimento sobre as populações negras em diferentes espaços e temporalidades, considerando suas especificidades históricas, políticas, culturais e conjunturais.
Desta forma busca-se elaborar ações que possibilite o fomento de ferramentas necessárias para instrumentalizar os professores oriundos do curso de licenciatura em História da UNEB – Campus XIII assim como docentes da rede pública de Educação Básica da região. 


Programação


Oficina: Ensino de História da África no Brasil: Desafios e perspectiva
Responsável: Mestrando Lucival Fraga dos Santos – UFBA
Horário: 13h00min
Local: Auditório da UNEB – CAMPUS XIII
Carga horária: 04 horas
 
Conferência: Culturas e Rebeldias no espaço Atlântico
Data: 10 de outubro de 2017
Horário: 19h00min
Local: Auditório da UNEB – CAMPUS XIII
Carga horária: 04 horas



Conferencistas:
Doutorado em História Social pela Universidade Federal Fluminense (2010). Atualmente é professora Adjunta B da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e do Programa de Pós-Graduação/Latu Sensu, Especialização em História da Bahia (UEFS). É membro dos GTs da ANPUH-BA.

Dra. Cristiane Batista – UNEB
Doutora em Estudos Étnicos e Africanos no CEAO\UFBA. É Professora do Departamento de Educação lecionando História da África e Laboratório do Ensino de História na UNEB campus XIII e Professora do Curso de Pós-graduação em Educação Profissional.

Dra. Patrícia Valim – UFBA
É Doutora em História Econômica (2013), pela Universidade de São Paulo. Atualmente é Professora de História do Brasil Colonial no Departamento de História da UFBA.
 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017


UNEB CAMPUS XIII marca presença no 3º Encontro do GT História do Atlântico e da Diáspora Africana





No dia 18 de Agosto deste, na cidade de Cachoeira – Ba, ocorrera o 3º Encontro do GT História do Atlântico e da Diáspora Africana, fundado em 02 outubro de 2014, durante o VII Encontro Regional da Associação Nacional de História – Seção Bahia.
O GT vem sistematicamente trabalhando no sentido de: Integrar pesquisadores e professores interessados nos temas afins; Promover a produção de pesquisa, estudos, debates e eventos; Articular as produções de História do Atlântico e da Diáspora Africana com a Formação Continuada de Professores da Educação Básica.
Em suas reuniões anuais são discutidos temas de pesquisa e aproximações teóricas e metodológicas dos pesquisadores que integram o GT, bem com o planejamento de atividades para o ano seguinte.
Prof. Dr. Josilvado de Oliveira / Roney de Carvalho
Entre outras instituições que marcaram presença neste espaço, tivemos a participação de membros do corpo docente é discente da UNEB – CAMPUS XIII, o Prof. Dr. Josivaldo Pires de Oliveira é o graduando em História Roney Boaventura de Carvalho que apresentaram resultados parciais de suas pesquisas e somaram aos debates que estimulam o livre pensamento e o espírito democrático. Estes últimos tão ameaçado atualmente em nosso país.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Apresentação do novo mestrado da UNEB.

N
No dia 12 do 7 de 2017, no auditório da UNEB XIII, foi apresentado para os alunos do curso de história, na figura do professor Ivaldo Marciano o novo mestrado multidisciplinar da UNEB que oferece a aqueles que tem suas linhas de pesquisa ligadas ao estudo da África, negros é "índios" a oportunidade de adentrarem em um mestrado e desenvolverem suas pesquisas.
Sabendo pois das particularidades e mesmo da dificuldade que é uma seleção de mestrado, os professores Dr. Josivaldo Pires e Drª Cristiane Batista, hoje responsáveis pelo eixo de África na instituição, se comprometeram em ajudar os discentes que pretendem seguir para o mestrado com pesquisa referentes ao continente africano, capacitando-os para fazerem a seleção mais bem preparados. 
No mais o evento foi muito proveitoso, pois apesar de ter durado pouco muitos colegas puderam, tirar duvidas e aprender mais sobre a situação da UNEB no que tange a pesquisa e Mestrado e mesmo sobre a História da África.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Cosme de Farias, o rábula dos capoeiras


Josivaldo Pires de Oliveira
Adjunto de História – UNEB/Campus XIII
Pós-Graduação em História Regional e Local – UNEB/Campus V
Malungo Centro de Capoeira Angola

Em uma das várias seções do Tribunal do Grande Júri na Cidade do Salvador no ano de 1895, um juiz de nome Vicente Tourinho perguntou à platéia quem poderia defender um negro acusado de ter roubado a importância de 500 réis e fora abandonado pelo seu advogado à beira do Júri. Quando um rapazola mulato com cara de menino se pronunciou aceitando o desafio, sem ao menos conhecer as peças do processo e o acusado. Depois de uma rápida leitura nos autos e uma estratégica intervenção do defensor, o réu foi absolvido. O argumento da defesa foi nada mais que: “a falta de oportunidade na vida o conduzira ao crime”.
Cosme de Farias tinha apenas o curso primário, entretanto, atuou durante sua trajetória de vida em mais de 30 mil processos judiciais, foi apontado como o campeão de habeas corpus da Bahia e, talvez, de todo o Brasil.
O referido rapazola mulato com cara de menino era Cosme de Farias, o último rábula da Bahia e um dos advogados que mais ganhou causas consideradas perdidas.
Nasceu no dia 02 de abril de 1875, em São Tomé de Paripe, subúrbio de Salvador, então Província da Bahia, filho de Paulino Manuel e Júlia Cândida de Farias, cursou apenas o primário. Foi vereador, deputado estadual, ativista social tendo, como rábula, defendido mais de 30 mil ladrões, prostitutas, bicheiros, homicidas, homens e mulheres caluniados, pobres que mofariam na cadeia sem dar a sua versão dos fatos. Cosme de Farias faleceu em Salvador, em 14 de março de 1972 e foi sepultado com grande prestígio popular.
Muitos criminosos ou ludibriados réus defendidos por Cosme de Farias eram capoeiras, agentes culturais identificados em sua vida social como valentes, brigões, desordeiros e capadócios além de capangas que prestavam serviços a figuras políticas da capital baiana. Os casos que se seguem ilustram a prática do rábula na defesa de capoeiras entre os quais nomes bastante conhecidos na época pelas forças policiais, como foi o caso de Pedro Porreta e Chico Três Pedaços, famosos pelas suas práticas de desordem nas ruas da capital baiana, na primeira República.
Uma das peculiaridades de Cosme de Farias era o “componente emocional”, ou seja, valorizava mais o psicológico dos acusadores, dos jurados e da audiência, do que o aparato jurídico, a lógica forense e os preceitos legais. Um outro elemento muito recorrente em suas elaborações era a negação da razão do indivíduo no momento em que cometeu o crime. Este foi, inclusive, o argumento que utilizou em defesa do capoeira Pedro Porreta, bastante conhecido pelos prepostos da polícia.
No dia 6 de maio de 1931, Pedro Porreta se desentendeu com sua companheira Josepha Alves de Araújo à porta de uma venda, situada nas proximidades da Rua da Assembléia, no distrito da Sé. Porreta agrediu a sua companheira que tombando ao chão teve o rosto seriamente machucado. Efetuada a prisão do agressor, o mesmo foi denunciado pelo promotor público da Primeira Circunscrição Criminal, incurso no art. 303 do Código Penal, em vigência, por crime de lesões corporais.
Nos autos de perguntas, anexos ao processo crime que acusava Pedro Porreta, Josepha Alves de Araújo, afirmou que o seu “offensor é conhecido como desordeiro e tem sido preso diversas vezes pela polícia”.  De fato, os jornais que circulavam na cidade de Salvador nas primeiras décadas do século XX, registraram uma série de conflitos envolvendo Pedro Porreta inclusive contra policiais e prostitutas, portanto não teria o valente capoeira um grande currículo para argumentar em sua defesa. Mas não foi preciso, alguém faria isto por ele. 
O termo de resposta do júri que o absolveu utilizou a seguinte argumentação: “o réu no acto de commetter o crime achava-se em estado de completa perturbação de sentido e de inteligência”. Curiosamente, em nenhum momento da acusação e dos autos de perguntas do processo ele foi identificado como sendo portador de algum tipo de doença ou de qualquer limitação que caracterizasse o argumento do júri. Era obra do rábula dos capoeiras.
Cosme de Farias entrou em ação para livrar Pedro Porreta da acusação de crime de lesão corporal. A negação da legitimidade do crime pela acusação de insanidade mental do réu era uma marca de Cosme de Farias e funcionou muito bem no caso de Pedro Porreta. Quanto a Josepha Alves de Araújo, companheira e vítima do notório capadócio, foi encaminhada para a enfermaria da Assistência Pública, depois de ter sido esmurrada pelo valente capoeira que foi autuado em flagrante delito.
 O argumento de Cosme de Farias, veiculado em um documento intitulado “pelo denunciado” e anexa aos autos do processo, foi a não caracterização da figura jurídica do art. 303 do Código Penal, ou seja, o acusado não tinha a intenção de ferir a vítima. Entretanto, em documento endereçado ao juiz da referida Circunscrição Criminal, o rábula utilizou um recurso eficiente, enalteceu exacerbadamente a pessoa do magistrado insinuando ser ela um símbolo da justiça baiana. Foi o bastante. Pedro Celestino dos Santos, vulgo Pedro Porreta, acusado do crime de lesões corporais foi absolvido pela justiça baiana.
O termo de resposta do júri que absolveu Pedro Porreta dizia que “o réu no acto de commetter o crime achava-se em estado de completa perturbação de sentido e de inteligência”. Como já observado, essa era uma característica peculiar de Cosme de Farias, ele influenciou o júri a tal decisão. A soma de valentes capoeiras defendidos pelo Major ainda iria acrescentar os casos envolvendo o capadócio que respondia pela alcunha de Chico Três Pedaços.
Na noite de 23 de julho de 1927, no centro antigo da cidade do Salvador (atual Centro Histórico do Pelourinho), João Francisco Pires, conhecido por Três Pedaços, foi acusado de ferir com uma cabeçada a José Raymundo dos Santos. Segundo a vítima, Três Pedaços teria entrado no estabelecimento comercial de nome “Café Para Todos”, situado naquela localidade, e pedido um pouco de café, o que lhe foi servido. Logo em seguida, o referido capoeira teria proferido obscenidades e ao ser advertido, agrediu o espanhol José Raymundo lesionando seus lábios com uma violenta cabeçada, golpe típico da prática da capoeira. Naquele instante teria comparecido um praça de polícia e conduzido o agressor à Delegacia da Segunda Circunscrição.
Por mais que o capoeira Três Pedaços tenha negado as ofensas físicas a José Raymundo dos Santos, nos autos foram ouvidas três testemunhas que a ele deram a autoria. Entretanto, o exame de corpo de delito realizado na vítima negou todas as acusações feitas ao réu, livrando-o de ser incurso no art. 303 do Código Penal, que punia o crime de lesões corporais. A intervenção de Cosme de Farias garantiu a liberdade de João Francisco Pires, vulgo Três Pedaços. Dentre os vários recursos de retórica utilizados pelo rábula, como já foi referido, eis aqui um exemplo, no qual o defensor sensibilizou o representante da Justiça Pública, lembrando que o réu já havia sido absolvido e que continuando preso sofria constrangimento por parte da lei e da justiça. Argumentava que Três Pedaços já não representava perigo algum, pois se tratava de um “desvalido e confiado na rectidão da justiça” daquela autoridade.
Existem no Arquivo Público do Estado da Bahia 4 processos movidos contra Chico Três Pedaços, sendo um por furto e os três restantes por lesões. Além deste o Major Cosme de Farias é citado em um outro movido contra Três Pedaços no ano de 1923. O capoeira foi denunciado pelo promotor público da 2ª Circunscrição Criminal por ter ferido a navalha o praça de polícia Ludgero Alves de Sant’ Anna.
Pedro Porreta e Chico Três Pedaços, obviamente, não foram os únicos agentes culturais da capoeiragem baiana a serem defendidos pelo rábula Cosme de Farias. Somam-se a estes: Bastião, Samuel da Calçada, Nozinho da Cocheira, Pedro Porreta, Duquinha, Scalvino, dentre outros revelados pela memória e historiografia da capoeira na Bahia.
Muitos desses capoeiras eram apontados como capangas de líderes políticos partidários de Cosme de Farias, entre eles os ex-governadores Joaquim José de Seabra (1855-1942) e Antônio Moniz (1881-1940), assim como o ex-secretário de Segurança Pública José Álvaro Cova, o qual já fora apontado como “padrinho dos capoeiras”, pelos escritos memorialistas do mestre Noronha (1909-1979).
Teriam essas filiações políticas alguma relação com a participação de Cosme de Farias nos processos movidos contra os referidos capoeiras?   O velho rábula teve uma história de ativismo social que não se deve negar, o que justificaria o seu empenho em livrar os capoeiras das malhas da justiça, mesmo aqueles apontados como capangas do grupo liderado por J. J. Seabra. O fato, é que os bastidores da história revelam Cosme de Farias como o rábula dos capoeiras.

 Saiba mais:
ABIB, Pedro (org.). Mestres e Capoeiras da Bahia. Salvador: EDUFBA, 2009.
CELESTINO, Mônica. “Cosme de Farias: advogado dos pobres”. In: Memórias da Bahia.  Salvador: Empresa Baiana de Jornalismo S. A., 2002, v. 1.
OLIVEIRA, Josivaldo Pires. No tempo dos valentes: os capoeiras na cidade da Bahia. Salvador: Quarteto, 2005.
PIRES, Liberac Cardoso Simões. A capoeira na Bahia de Todos os Santos. Tocantins: GRAFSET, 2004.

 BOX 1

O Rábula
Também conhecido por Aprovisionado, rábula era, no Brasil, desde o período colonial, o advogado que não possuia bacharelado em Direito.  Os interessados solicitavam a autorização para advogar do órgão competente do Poder Judiciário ou da entidade representante de classe. Expedia-se, a pedido do pretendente, uma Provisão, que tornava habilitado o rábula a exercer a prática de advogado. Com a criação da Ordem dos Advogados do Brasil-OAB, no início dos anos 1930, o sistema de rábula foi legitimado por este ógão de classe sendo extinto apenas nas décasas de 1960-70, quando a advocacia passou a ser prerrogativa exclusiva dos bacharéis em Direito.

 BOX 2

Os Capoeiras
Denominação utilizada, desde o século XIX,  para identificar o praticante da arte-luta-dança de matrizes africanas conhecida no Brasil por Capoeira. Durante o século XIX e primeira metade do século XX, estes indivíduos eram estigmatizados como marginais, arruaceiros e perigosos capadócios das ruas de grandes centros urbanos brasileiros. A prática dos capoeiras denominada capoeiragem, foi criminalizada no Código Penal de 1890, só deixando de ser considerada contravenção com a reforma penal dos anos 1930, ganhando estatos de esporte nacional. Em 2008, a capoeira foi tombada como patrimônio cultural brasileiro e seus praticantes atendem pela denominação de capoeiristas. 

BOX 3

A Bahia e os Capoeiras
A Bahia foi construída historicamente como um símbolo da capoeira no Brasil e no mundo, processo este que pode ser datado a partir dos anos 1930 e 1940. Entretanto, pouco se conhece dos bastidores das relações sociais e de poder que os famosos capoeiras baianos mantinham com figurões da política local anterior a este período, definido como o tempo dos valentes das ruas.